Não me bastou apenas uma postagem para a banda Scolopendra aqui no blog, então resolvi fazer uma outra abordando de uma forma analítica o álbum de estreia dessa que se tornou uma das minhas bandas favoritas do gênero ProgRock.
Conheci a banda através do programa "Rock and Roll Around The World" na Rádio RST RADIO ROCK. O disco estava sendo tocado na íntegra. Entrei quase que por acidente nesse dia e foi paixão à primeira ouvida por esse som tão delicado e bonito desse projeto.
"Cero" é o primeiro álbum da dupla Scolopendra. SoJue Stradac e Josmarq Alvarado dividem a produção, composição e instrumentação do trabalho. Uma peça musical de 44 minutos dividida em 4 atos que reproduz, através de sua melodia única - delicada e vocais num tom apocalíptico - a destruição do mundo, contando em sua letra chuva de espinhos, tsunami, terremoto e por fim, a morte, representada pelo deserto, dito na música. Até chegar ao nada, como no início, ou o Zero. Por isso o título do álbum.
Então vamos à análise das faixas!
"Cero 1" abre com uma ambientação que leva o ouvinte para uma espécie de floresta, onde se ouvem sons de animais silvestres. À medida que a música aumenta, a emoção vai aumentando, até entrar a primeira linha de guitarra, que causa uma ligeira impressão de "nascimento". Nessa primeira faixa SoJue e Josmarq, através de uma instrumentação intimista começam a narrar o ambiente da história de "Cero". Perto dos 5 minutos entram as primeiras linhas vocais, onde os primeiros versos descrevem o ambiente - um dia em que o Sol era azul denso, e uma noite em que a lua era vermelha cor de sangue, uma chuva de espinhos que não é bem identificada.
Após o ouvinte imergir no conceito do álbum, entramos com "Cero 2". A faixa já mostra sua intensidade ao abrir com um som de trovoada. Uma tempestade. A letra ao invés de descrever o ambiente aos olhos do narrador, é descrita pelos olhos das personagens da história. A guitarra vai ganhando cada vez mais peso e a bateria tem seu momento de intensidade.
Aqui, além de imergir no conceito, nos tornamos parte da história, pois a narrativa já é dita em primeira pessoa, ao contrário da narrativa de Cero 1.
Nesse segundo ato, começamos a ver os primeiros sinais do apocalipse: A chuva de espinhos aqui é comprovada como uma chuva de meteoros caindo na superfície e um local sombrio coberto por um mar negro em chamas.
"Cero 3" inicia com um som de água e pássaros cantando, dando uma espécie de tranquilidade ao ouvinte, após ter passado pelo primeiro ápice do álbum. Após nos ter apresentado o ambiente do conceito do álbum nos dois primeiros atos, a Scolopendra inicia a sua narração sobre a destruição em si. O ápice maior do álbum se encontra aqui, mas não que isso desmereça os outros atos, quero dizer que aqui é onde a emoção se encontra, onde o terremoto ataca e a terra se abre em um abismo. Uma confusão, desespero, tudo morrendo. O cataclismo acontece, apagando todos os rastros, até não sobrar nada e a Terra voltar ao que era antes, ao início dos tempos, ao ZERO.
Então, fechamos o álbum com a peça de maior duração do álbum. "Cero 4" nos dá um ar de conclusão. A melodia é acompanhada por altos e baixos de intensidade. É aqui onde a obra é tocada por completo. Nessa peça, marca-se o fim do mundo em questão, o fim da vida, e a letra dessa vez inicia com várias questões ("Pelo menos me diga para onde ir"; "Mesmo que eu tenha de atravessar o deserto"). A Terra virou um deserto seco, morto pela catástrofe. O tempo já não existia, o mundo presetes a explodir, até que o narrador nos diz nos versos finais: "Nosso destino está renascendo como o mesmo, em outra galáxia que é como um mundo mais bruto".
Então a poesia finaliza com a frase: Morrer, Viver, Morrer.
E assim temos o final dessa obra incrível. Um fechamento perfeito em que sintetizadores, guitarras e teclados terminam o álbum e um efeito programado nos dá uma ideia de viagem a uma nova galáxia, uma nova vida.
"Cero" se tornou um dos meus álbuns favoritos, e ao fazer essa análise faixa-a-faixa eu descobri que quanto mais eu escuto essa obra, mais eu descubro elementos que não prestei tanta atenção. Os músicos SoJue e Josmarq mostram aqui todo seu talento, dedicação e seriedade ao trabalho que fazem, exibindo todo o poder que têm para gerar um conceito de um álbum e fazer o ouvinte imergir por completo no mesmo.
Esse é o tipo de CD que a gente só para de ouvir depois que escuta por completo, pois nenhum minuto deixa a desejar esse fantástico trabalho de ProgRock oriundo do México.
Confesso que antes da Scolopendra, eu não tinha conhecimento da música progressiva mexicana. Até porque eu ainda sou novo nessa estrada de descoberta.
Então, fica aqui minhas 5 estrelas para "Cero".
Um belo texto sobre este disco que também gostei muito. Você nos conduz para uma viagem dentro desta bela musica. Um dos melhores álbuns do ano sem duvida.
ResponderExcluirCertamente, Vinício! Obrigado por gostar da análise. Fiz com todo gosto. Mas é uma simples análise, não chega nem aos pés do que essa obra maravilhosa merece!
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